Fins da década de 40, mais precisamente o ano de 1946, meu pai falece em Neópolis (SE), - não sou sergipano, mas alagoano-, e meus pais residiam na Vila da Passagem , meu pai trabalhava na fábrica Peixoto, Gonçalves & Cia., razão por que, de São Braz (AL), fomos morar nessa Vila, formada de casinhas de operários, com um cinema, uma igrejinha, onde fui coroinha.
Bem, após a morte de meu genitor, fixamos residência em Aracaju, na casa dos meus avós. Aracaju, para o menino de São Braz, era uma metrópole, tudo me encantava na nova cidade.
É nessa época, em 1947, que começo os meus estudos no Colégio Jackson de Figueirêdo, situado no Parque Teófilo Dantas e conheço CARLOS AUGUSTO DE SÁ.
Morávamos nas dunas da rua de Capela, com as ruas de Bonfim e Divina Pastora. Nossas casas ficavam no cimo do pequeno morro, um areial imenso em todas as direções, mas estávamos acostumados, afinal de contas estávamos no centro da cidade.
CARLOS, filho de "seu" IVO e D. AMÉLIA, se não me falha a memória, irmão de Reginalda, Diná e outra que no momento não me recordo o nome, levava a sua vida de estudante adolescente, como eu, mas não estudávamos no mesmo Colégio primário. Prestamos exame de admissão e aí, sim, temos uma convivência diária, nos dirigindo, todo dia, ao antigo ATHENEU. Recordo que saíamos às 12 hs. de nossas casas, em direção ao colégio. Íamos a pés - táxi era luxo - , havia o bonde, mas, para nós, era contramão. Seguíamos pela rua de Capela, Parque Teófilo Dantas, Av. Ivo do Prado (rua da frente) e chegávamos ao Atheneu. A nossa farda era militarizada, de cáqui, com punhos azuis e ai daquele que chegasse ao ATHENEU com a blusa aberta, o Diretor, Joaquim Sobral, dava os maiores esporros.
Eu e CARLOS testemunhamos fatos que jamais esqueceremos: de certa feita os estudantes colocaram paralelepípedos nos trilhos do bonde para o mesmo não passar; marcamos uma batalha campal na Praça Fausto Cardoso com a Escola Industrial, que já foi Escola Técnica Federal de Sergipe e hoje IFS (Instituto Federal de Ensino). Passávamos na porta das padarias (rua Santo Amaro, na esquina) e pegávamos as achas de lenha. Mas, para nossa felicidade, os estudantes da Escola Industrial,não vieram e , entre mortos e feridos, todos se salvaram.
Lembro que todas as noites eu e CARLOS íamos até a rua de João Pessoa (Calçadão), jogar snooker no bar de "seu" Freitas e voltávamos cedo para casa ( 21 hs) senão nossos pais nos exemplavam. Meus filhos, Hermes e Márcia, chegavam meia-noite e hj. meus netos vão para as baladas às 24 hs. e chegam em casa de manhã, são os novos tempos.
Bem, concluído o Ginásio precisávamos trabalhar, CARLOS, se não me engano, foi trabalhar em DANTAS KRAUSS, na Av. Rio Branco (rua da frente) e eu, inicialmente, na área comercial (pouco tempo) e depois no setor bancário.
CARLOS e outros colegas de DANTAS KRAUSS fundam a SOCIMEL. Nessa época deixei Aracaju e fui trabalhar em um Banco em Salvador e posteriomente no Banco do Brasil em Jequié(BA), onde nasceram meus filhos. Quando vinha a Aracaju sempre o visitava ali na SOCIMEL, estabelecimento com duas frentes: Av. João Ribeiro e Apulcro Mota. Revivíamos os nossos momentos, as nossas peraltices, as nossas brincadeiras de adolescentes.
Depois nos casamos, cada qual constituiu sua família e fomos cuidar de nossas vidas.
Foi, como já disse, meu primeiro amigo na terra: trabalhador, ético, correto nos seus atos, bom filho, bom irmão.
Quando vinha de São Paulo me procurava, e da última vez fomos até a orla rememorar nossos tempos em Aracaju.
Era paciente de meu filho Hermes (procto), colega de Dr. Hernan, filho da Sônia.
Tomei como surpresa o falecimento dele em Americana (SP), onde mora esposa e filha Ivana. Hoje sou um setentão e gravo no meu computador (memória), os bons momentos que vivemos na Aracaju provinciana, sem Atalaia, sem baladas, sem shows diários; a Aracaju menina, de 80.000 habitantes; a Aracaju da IARA (uma pequena "boite") no Parque; a Aracaju de Zé Peixe; A Aracaju do carrossel de "seu" Tobias; a Aracaju das retretas na Pça. Fausto Cardoso; a Aracaju dos bondes elétricos; a Aracaju do trem "Estrela do Norte"; a Aracaju das dunas em muitas ruas; a Aracaju dos aviões hidroviários (ponte do Imperador); a Aracaju do carnaval que começava na rua José do Prado Franco e chegava até a Praça Fausto Cardoso; a Aracaju, enfim, de nosso Atheneu, onde eu e o amigo CARLOS estudávamos e éramos felizes.
Estes são fatos que narro " ao correr da pena " (ou digital) sobre a vida de dois Amigos que o destino, e quem pode ir de encontro aos desígnios de DEUS, separou e levou um deles para a eternidade, juntar-se a tantos outros amigos que por lá estão, inclusive meu irmão, o jornalista Santos Santana, que também o conhecia, e que faleceu em 1982.
Apresento à família enlutada os meus pêsames; o faço também em nome de minha esposa Odete (tb. conheceu Carlos) e de meus filhos Hermes e Márcia.
Saibam todos vocês, membros da família SÁ, que CARLOS foi um homem na verdadeira acepção da palavra. Guardo, até meus últimos dias, os momentos felizes que passamos nesta Barbosópolis.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
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