quinta-feira, 10 de maio de 2012

CARLOS SÁ, meu primeiro amigo em Aracaju

Fins da década de 40, mais precisamente o ano de 1946, meu pai falece em Neópolis (SE), - não sou sergipano, mas alagoano-, e meus pais residiam na Vila da Passagem , meu pai trabalhava na fábrica Peixoto, Gonçalves & Cia., razão por que, de São Braz (AL), fomos morar nessa Vila, formada de casinhas de operários, com um cinema, uma igrejinha, onde fui coroinha.
Bem, após a morte de meu genitor, fixamos residência em Aracaju, na casa dos meus avós. Aracaju, para o menino de São Braz, era uma metrópole, tudo me encantava na nova cidade.
É nessa época, em 1947, que começo os meus estudos no Colégio Jackson de Figueirêdo, situado no Parque Teófilo Dantas e conheço CARLOS AUGUSTO DE SÁ.
Morávamos nas dunas da rua de Capela, com as ruas de Bonfim e Divina Pastora. Nossas casas ficavam no cimo do pequeno morro, um areial imenso em todas as direções, mas estávamos acostumados, afinal de contas estávamos no centro da cidade.
CARLOS, filho de "seu" IVO e D. AMÉLIA, se não me falha a memória, irmão de Reginalda, Diná e outra que no momento não me recordo o nome, levava a sua vida de estudante adolescente, como eu, mas não estudávamos no mesmo Colégio primário. Prestamos exame de admissão e aí, sim, temos uma convivência diária, nos dirigindo, todo dia, ao antigo ATHENEU. Recordo que saíamos às 12 hs. de nossas casas, em direção ao colégio. Íamos a pés - táxi era luxo - , havia o bonde, mas, para nós, era contramão. Seguíamos pela rua de Capela, Parque Teófilo Dantas, Av. Ivo do Prado (rua da frente) e chegávamos ao Atheneu. A nossa farda era militarizada, de cáqui, com punhos azuis e ai daquele que chegasse ao ATHENEU com a blusa aberta, o Diretor, Joaquim Sobral, dava os maiores esporros.
Eu e CARLOS testemunhamos fatos que jamais esqueceremos: de certa feita os estudantes colocaram paralelepípedos nos trilhos do bonde para o mesmo não passar; marcamos uma batalha campal na Praça Fausto Cardoso com a Escola Industrial, que já foi Escola Técnica Federal de Sergipe e hoje IFS (Instituto Federal de Ensino). Passávamos na porta das padarias (rua Santo Amaro, na esquina) e pegávamos as achas de lenha. Mas, para nossa felicidade, os estudantes da Escola Industrial,não vieram e , entre mortos e feridos, todos se salvaram.
Lembro que todas as noites eu e CARLOS íamos até a rua de João Pessoa (Calçadão), jogar snooker no bar de "seu" Freitas e voltávamos cedo para casa ( 21 hs) senão nossos pais nos exemplavam. Meus filhos, Hermes e Márcia, chegavam meia-noite e hj. meus netos vão para as baladas às 24 hs. e chegam em casa de manhã, são os novos tempos.
Bem, concluído o Ginásio precisávamos trabalhar, CARLOS, se não me engano, foi trabalhar em DANTAS KRAUSS, na Av. Rio Branco (rua da frente) e eu, inicialmente, na área comercial (pouco tempo) e depois no setor bancário.
CARLOS e outros colegas de DANTAS KRAUSS fundam a SOCIMEL. Nessa época deixei Aracaju e fui trabalhar em um Banco em Salvador e posteriomente no Banco do Brasil em Jequié(BA), onde nasceram meus filhos. Quando vinha a Aracaju sempre o visitava ali na SOCIMEL, estabelecimento com duas frentes: Av. João Ribeiro e Apulcro Mota. Revivíamos os nossos momentos, as nossas peraltices, as nossas brincadeiras de adolescentes.
Depois nos casamos, cada qual constituiu sua família e fomos cuidar de nossas vidas.
Foi, como já disse, meu primeiro amigo na terra: trabalhador, ético, correto nos seus atos, bom filho, bom irmão.
Quando vinha de São Paulo me procurava, e da última vez fomos até a orla rememorar nossos tempos em Aracaju.
Era paciente de meu filho Hermes (procto), colega de Dr. Hernan, filho da Sônia.
Tomei como surpresa o falecimento dele em Americana (SP), onde mora esposa e filha Ivana. Hoje sou um setentão e gravo no meu computador (memória), os bons momentos que vivemos na Aracaju provinciana, sem Atalaia, sem baladas, sem shows diários; a Aracaju menina, de 80.000 habitantes; a Aracaju da IARA (uma pequena "boite") no Parque; a Aracaju de Zé Peixe; A Aracaju do carrossel de "seu" Tobias; a Aracaju das retretas na Pça. Fausto Cardoso; a Aracaju dos bondes elétricos; a Aracaju do trem "Estrela do Norte"; a Aracaju das dunas em muitas ruas; a Aracaju dos aviões hidroviários (ponte do Imperador); a Aracaju do carnaval que começava na rua José do Prado Franco e chegava até a Praça Fausto Cardoso; a Aracaju, enfim, de nosso Atheneu, onde eu e o amigo CARLOS estudávamos e éramos felizes.
Estes são fatos que narro " ao correr da pena " (ou digital) sobre a vida de dois Amigos que o destino, e quem pode ir de encontro aos desígnios de DEUS, separou e levou um deles para a eternidade, juntar-se a tantos outros amigos que por lá estão, inclusive meu irmão, o jornalista Santos Santana, que também o conhecia, e que faleceu em 1982.
Apresento à família enlutada os meus pêsames; o faço também em nome de minha esposa Odete (tb. conheceu Carlos) e de meus filhos Hermes e Márcia.
Saibam todos vocês, membros da família SÁ, que CARLOS foi um homem na verdadeira acepção da palavra. Guardo, até meus últimos dias, os momentos felizes que passamos nesta Barbosópolis.

sábado, 28 de abril de 2012

ZÉ PEIXE - " O LOBO DO MAR"

Quinta feira passada, dia 25 deste mês, morre, aos 85 anos de idade José Martinho Ribeiro Nunes, mais conhecido na sociedade sergipana , brasileira e mundial, por ZÉ PEIXE. Foi uma lenda viva que desapareceu e dificilmente haverá um segundo ZÉ PEIXE, insubstituível portanto.
Durante as suas oito e meia décadas dedicou-se, diuturnamente, em desvendar os insondáveis segredos do mar. Fê-lo com persistência, deixando outras atividades de lado. Foi reconhecido e abençoado pelo Deus NETUNO dos romanos que o segurava, quando saltava dos navios, qual águia, a fim de orientar, como prático, os comandantes que aportavam em nossa cidade. E os guiava c om segurança profissional, tendo um capitão da Marinha informado que ele salvara muitas vidas, orientando as embarcações. O poeta dos escravos já houvera invocado o Deus dos Mares: " Netuno, fecha os teus mares". Castro Alves não aceitava a entrada de navios negreiros em nosso território. Porém para o nosso ZÉ PEIXE Netuno abriu os seus mares e recebeu-o em seu seio. Os saltos para o infinito no estuário do rio Sergipe tornaram-se uma façanha para nós outros, mas coisa corriqueira para Zé Peixe.Era quase que um segundo comandante, levando os navios, como prático, por locais onde eles poderiam navegar, sem sustos. Primeiro, porque em nossos oceanos não há "icebergs", mas a barra do rio sergipe é muito estreita e bem raza. Tanto que uma draga, há tempos atrás, veio fazer o serviço de dragagem no local.
Em poucos dias Sergipe perde dois vultos importantes em seus respectivos setores: Luiz Antonio Barreto, homem de letras, pesquisador, estudioso, biógrafo de Tobias Barreto e o herói das águas, o nosso Zé Peixe. O seu corpo foi velado na Capitania dos Portos de Aracaju e o seu féretro fez-lhe justiça: o seu caixão é carregado por 6 marinheiros e posto no carro do Corpo de Bombeiros; as embarcações acompanham o enterro; o povo também o leva " em seus braços". Finalmente o herói dos mares é sepultado no cemitério Santa Isabel. Adeus Zé Peixe, meu contemporâneo. A rua da frente não verá mais aquele homenzinho, simples, usando um calção de banho, diga-se banho do mar, porque, segundo ele, nunca tomou banho de chuveiro. Vá, Zé Peixe, os Deuses estão lhe esperando.

domingo, 22 de abril de 2012

PROVOCAÇÕES ENTRE DOIS MINISTROS DO STF

A mídia nacional destaca as ofensas pessoais assacadas por dois Ministros do Supremo Tribunal Federal, o César Peluso e o Joaquim Barbosa. Segundo o Barbosa, Peluso é ditador e decide de acordo com as suas conveniências. Continua o Ministro queixando-se da maneira como é tratado pelo ex-Presidente do STF, que, por ocasião de um pedido de licença para tratamento de saúde não quís receber os exames, chegando ao ponto de querer aposentá-lo compulsoriamente. Diz mais o Ministro Barbosa:" o ex-Presidente, mesmo sabendo que fizera uma cirurgia dos quadris, designou-me para relatar processos a fim de exigir a minha presença na Corte". Acha que por ser de cor negra é discriminado pelo Peluso. Alega que o ex-Presidente votou duas vezes no processo em que era réu o Senador Jader Barbalho, a fim de  revogar a sua pena e voltar ao Senado. É um rosário de reclamações do Ministro Barbosa. Por outro lado o Ministro Peluso acha que seu colega é arrogante, inseguro. Como se vê, os dois se digladiam, dando um mau exemplo aos operadores do direito como juízes, promotores, advogados. Atitudes partidas de dois Ministros de Alta Corte do País. Para os demais Ministros, que são 09 (nove), não são atitudes corretas daqueles que diariamente proferem julgamentos de pessoas, instituições, etc.  O povo que já não está satisfeito com a justiça, por ser morosa e os processos dormem nos gabinetes, como ajuizarão tais procedimentos? É uma pena fatos desta natureza. Mas continuemos acreditando na justiça porque um País sem justiça se transformará em uma ditadura, tendo em vista que a democracia é a "menina dos olhos" da Constituição e não queremos mais passar por regime ditatorial. Como assumiu a Presidência da Corte um Ministro conciliador, probo, ético, inteligente, trabalhador e, como ele mesmo diz: " o homem, o político, o juiz, deve ser como a garça, que pousa em brejos, pantanais e não se suja, não se chafurda, volta a voar límpida, alva".  E também que " aquele que tem um rei na barriga morre de parto".

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O "DOUBLÉ" DE MÉDICO E POETA - MARCELO RIBEIRO

Hoje, já que me encontro sozinho e posso pensar, resolvi fazer uma crônica sobre o meu médico particular, Dr. Marcelo Ribeiro, que, nas horas vagas é um poeta de "boa cepa", " viajando" pelas entranhas do ser humano, desnudando os assuntos, traçando perfis de pessoas, de coisas, em seu linguajar, criando termos, vocábulos, inventando um novocabulário, com a licença poética que só é permitida aos grandes escritores, como o padre Antonio Vieira, que usou " me melem", Camões, e, entre nós, Drumond, Bandeira e muitos outros.
Antes de conhecer o médico/poeta, fui aluno de seu pai, Dr. José da Silva Ribeiro, mestre do direito penal, na vetusta Faculdade Federal de Direito de Sergipe. Nessa época, década de 60, o menino Marcelo, de calças curtas, jogava bola no campo Alberto Azevedo, atrás de sua casa e rezando e comungando no Salesiano.
Um dos seus irmãos, o Wagner, uma das inteligências maiores de nossa Barbosópolis, também escritor, foi meu colega no Dep. de Direito da UFS, ministrando Direito Processual do Trabalho.
Ambos hoje pertencentes à Academia Sergipana de Letras, presidida pelo meu colega do Dep. de Direito Dr. José Anderson Nascimento e tendo como decano, assim me parece, o professor José Amado do Nascimento.
Bem, mas voltemos ao médico. Tive um problemazinho auditivo (cerumen) e visito Dr. Marcelo, fato ocorrido no dia 11.04.2012. Chego ao seu consultório às 13 horas e a sala já está cheia de pacientes. A atendente me diz que eu sou o 14º. a ser atendido. Tudo bem. Me sento ( e não sou poeta para ter a chamada licença poética), mas estou bem acompanhado, em uma das cadeiras do consultório e vejo na mesa da atendente vários livros. Por curiosidade vou vê-los e lá estão livros escritos pelo poeta. Debruço-me sobre os compêndios e escolho o primeiro para ler. Título: "Algum Poema Conciso". Prefácio de Léo A. Mittaraquis e "orelha" do também poeta Vieira Neto.
O prefaciador analisa com acuidade e sabedoria os poemas insertos no livro, fala do "ato solitário de criar" do poeta ,no primeiro poema "Fragmentos" e conclui " testemunho minha gratidão para com o vate". E Vieira Neto escreve", mais adiante, no poema "Eclipse", dedicado ao irmão Wagner Ribeiro, o bardo mostra sua capacidade de invenção verbal: " Acontece/anoitecer-me/em pleno dia/e sombrio aguardar/ficar manhã". Brilhante, segundo Vieira Neto. A imagem é muito profunda, própria dos poetas de alma limpa, mas os vates nunca se encontram na escuridão e sim na claridade meridiana.Em "Sedução" Marcelo compara a lua a uma mulher, que cobre-se de nuvens e, como a mulher, depois desnuda-se.
O poeta vive, em seus poemas, o dia-a-dia de nossa cidade, de nosso Estado, de nosso País, do Mundo; penetra no âmago da sociedade; vê coisas que os pobres mortais não vislumbram. A sua alma está inquieta, quer descobrir, quer ver.